Não venham com conversas da treta.

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Segundo o DN, os portugueses gastaram “Quase mil euros por segundo no Natal”. Como? 1 000 Euros ao segundo dá 60 000 ao minuto, 3 600 000 à hora, 86 400 000 euros em 24 horas. Caramba …quanto teriam gasto os portugueses, verdadeiramente neste Natal? Não sou capaz de o dizer. Mas, mil euros por segundo, não foi de certeza.

No desenvolvimento da notícia, verificamos que estas contas se referem a registos de compras, através de máquinas Multibanco desde o início de Dezembro até ao Natal. Dizer que são de Natal é forçar a nota. É carregar na tese de que os portugueses são excessivamente consumistas e vem na peugada de outras notícias sobre o acréscimo do crédito mal-parado e sobre o excessivo endividamento das famílias.

A sensação que fico é que estão a querer fazer de nós uns papalvos.

Os novos catequistas, apóstolos da moral e virtudes públicas, andam inquietos, coitados, com o consumo dos portugueses. Por um lado, fodem-nos tramam-nos com aumento de custo de vida, o fecho de empresas, a retirada de direitos. Depois ainda atiram à cara que os portugueses não sabem gerir o seu dinheiro. Fica tudo a bater certo, não é? Puta que os pariu!… Bardamerda para eles.

Os portugueses não gastam demais. Os portugueses gastam o que podem gastar. Não conseguem é fazer milagres. Alguns se calhar até conseguem, tendo em conta os míseros cêntimos com que são obrigados a viver.

Tudo o resto é treta! Os portugueses não gastam de mais… não gastam mais que outras gentes, outros povos onde se cumpre este ritual do Natal.

Gastam mais do que é normal, é verdade, mas não gastam para si e não gastam acima do que podem. Gastam fazendo sacríficios, para dar carinho e afecto aos que lhes são mais próximos, aos familiares e amigos. Gastam com muitos sacrifícios, mas gastam bem. Gastam para dar a outros. A troca ou a oferta generosa de prendas é muito bonito.

Não nos emprenhem os ouvidos, porra! A maioria dos portugueses não gasta mal, nem gasta muito. Gastam mais neste dia para oferecer um gosto aos outros. A razão de a maioria dos portugueses atravessarem um momento difícil, e nalguns casos, não conseguirem cumprir os seus compromissos, não é porque gastem demasiado ou gastem mal. Não, não é! É porque lhes roubaram o emprego, aumentaram os impostos, os custos dos bens essenciais. Aumentaram as rendas ou os juros dos empréstimos.

Não nos venham com conversas da treta.

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