Vassourada para os dirigentes das organizações dos trabalhadores da PT

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Os dirigentes das organizações dos trabalhadores da Portugal Telecom (sindicatos e comissão de trabalhadores) mereciam a destituição dos seus lugares se os estatutos o permitissem se a “cegueira” ideológica de alguns ou indiferença dos outros, trabalhadores e dirigentes, não lhes perturbasse o discernimento.

A divisão sindical na empresa existe desde sempre e não perceber as razões é ignorar que as organizações dos trabalhadores se movem por interesses partidários, interesses particulares ou grupos de interesse. O Partido Comunista controlava e dominava o sindicato a seu belo prazer e os trabalhadores eram armas de arremesso para as lutas de acordo com a sua agenda político/partidária.
Sou uma particular testemunha, de sempre, desta estratégia. Fui sempre um activista, fui delegado sindical, participei em inúmeros conselhos nacionais de delegados, em toda a minha vida contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que não pude estar presente em reuniões, assembleias, plenários, e em todos estes fóruns, fiz sentir a minha posição, defendi desde sempre o princípio de uma empresa um sindicato, cheguei a ser suspenso temporariamente. Não falo por falar. Apesar disso, mesmo em discordância, nunca deixei de estar em todas as lutas, em nome da unidade sindical.

Um dia os mesmos que foram dirigentes, actores e cúmplices, engendrando um conjunto de intrigas dilatórias de que todos foram responsáveis, procuraram fazer cair o “ónus” de todos os erros, trapalhadas e complicações no Presidente do sindicato. Essa tentativa não resultou (afinal eram todos coniventes), os dirigentes dividiram-se e em duas eleições subsequentes, o Partido Comunista perdeu o sindicato e o Presidente manteve-se como Presidente. Já na Comissão de Trabalhadores, continuaram a manter a sua influência e controlo, sendo que a nova direcção sindical não se apresentou às eleições, nem apoiou nenhuma das listas concorrentes.

É pois na sequência destes “dois” poderes que a divisão nos trabalhadores se tem vindo a acentuar. A Comissão de Trabalhadores quer ser o que não é …o Sindicato. E de repente um órgão inócuo como sempre foi a sua Comissão de Trabalhadores, passou a fazer marcação cerrada ao sindicato. Com alguma inteligência, diga-se.

Mas a actuação da CT, da grande maioria dos seus membros, é de uma esperteza saloia. Na essência, não tem grandes diferenças com o passado e continuidade das políticas erradas do Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisuais (SINTTAV), embora, com um discurso mais suave, aparentemente, mais unitário. Convém. Quem estiver mais atento verá apenas estratagemas para “seduzir” os trabalhadores, mas na essência, tudo é igual. Vislumbro apenas uma nova estratégia de “assalto” ao SINTTAV um dos sindicatos mais ricos e poderosos do país. O algodão não enganaria.

Por outro lado o SINTTAV está cada vez pior. A resposta que oferece é contraditória, desadequada, atrasada, e acima de tudo revanchista a tudo que venha do outro lado, leia-se Comissão de Trabalhadores, leia-se PCP. É uma atitude profundamente errada. É pior a emenda que o soneto.

O SINTTAV aparece aos olhos dos trabalhadores como desinteressado, despreocupado, virado para dentro, obediente ao “chefe”, para aparecer de forma desastrosa, com um discurso panfletário, acusando tudo e todos, camuflando a sua responsabilidade, as suas incoerências, a sua distracção sobre os grandes problemas.

Se não soubesse o trabalho que alguns dos seus dirigentes desenvolvem em particular, no que concerne ao trabalho nos CalCenter’s, no trabalho precário, no trabalho invisível, diria que o sindicato aparece de vez em quando para dizer que existe.

Iniciei esta crónica dizendo que se fosse possível os dirigentes associativos deveriam ser demitidos. A razão é simples. Os trabalhadores da PT estão preocupados com o seu sistema de saúde. A Comissão de Trabalhadores, numa jogada de antecipação, agarrou este problema, dramatizou-o, chamou os restantes sindicatos a construírem uma frente contra as alterações no modelo de comparticipação. A pretexto de criar uma unidade na luta, tentou “comprometer” o SINTTAV. Este conhecedor destas estratégias partidárias de correia de transmissão de outros interesses, disse que não alinhava em actividades premeditadas. Escudou-se nos seus próprios timings e afirmou com alguma razão, que discordava do método de concepção destas “frentes”. Fez mal deveria mesmo assim aderir e defender as suas posições “divergentes” (serão assim tão divergentes …não me parece.)

Por mim acho que ambos, Sindicatos e Comissões de Trabalhadores, laboram num erro crasso.
O de responsabilizar a Empresa, consagrando greves ou fazendo manifestações à pressa, quando é sabido que a responsabilidade primeira, dessas alterações é o Governo, com a cumplicidade das Empresas obviamente que se “banqueteiam”com estas dádivas.

O cúmulo do desrespeito pelos trabalhadores é um sindicato, o SINTTAV, marcar uma manifestação nacional no mesmo dia em que a Frente marca uma greve nacional.

Não interessa agora saber quem teve primeira a iniciativa e quem se sobrepôs com outra forma de luta. Por certo o SINTAAV dirá que já tinha esta data agendada e que houve quem, terá falado e terá sido aproveitada pela outra parte, como do lado da Frente se dirá que foi uma tentativa de diminuir o impacto da mesma. Em qualquer dos casos não deixo de dizer que depois de a data ser tornada pública o SINTTAV, nunca deveria teimosamente insistir no mesmo dia. E se quer continuar a merecer ainda alguma consideração, deveria abdicar da forma de luta nesse dia.

Merecem assim algum respeito quem, de um lado ou de outro, à revelia dos interesses dos trabalhadores, persiste nesta guerrilha institucional e política? A mim não! Vassourada seria a palavra de ordem, apesar dos amigos que tenho de ambos os lados, em particular na direcção do SINTAAV.

O Governo sabe-se querer acabar com todos os subsistemas de saúde, em nome do equilíbrio das contas públicas. Todos os sistemas e subsistemas de saúde que obrigam a uma comparticipação do Estado vão acabar, é certo. É uma questão de tempo e oportunidade. Em 2007 vai acabar subsistema da classe jornalística. Depois será o da PT-ACS.

Só não acabam todos já, não por falta de vontade política, não por receio das reacções, mas apenas porque sabem que o Sistema Nacional de Saúde não aguenta mais centenas de milhares de utentes a engrossar e entupir as urgências, as consultas, os internamentos, as intervenções cirúrgicas. Não seria bom para as estatísticas da União Europeia.

Ah, não podia deixar de dizer que a Comissão de Trabalhadores, para mobilizar os trabalhadores da PT, usa na propaganda uma frase do mais reaccionário que pode existir. Um atestado de camelice, interesse egoísta, de marketing barato e rasteiro, que é dizer que “pela saúde os trabalhadores lutam”. Uma vergonha!

Para melhor sinalizar a minha opinião, direi que não iria para estas formas de luta, mas para um esclarecimento profundo da opinião pública, em comunicações pagas nos órgãos de comunicação social, em comunicados distribuídos à população, em pequenas concentrações locais dos beneficiários do sistema, para desmontar as falácias do governo e as razões sobre os “privilégios”, explicar que estes sistemas não acarretam custos acrescidos dos contribuintes, que também defendemos um Sistema Nacional de Saúde, único para todos. E que a razão primeira para manter estes sistemas alternativos ou complementares ao SNS destes subsistemas serve para não carregar os serviços públicos de saúde. A alteração total das circunstâncias faria o sistema entrar em rotura e só por oportunismo e mentira é que o Governo não assume esta evidência.

Iria mais longe. Diria mesmo para desmontar a argumentação do Governo para este ter a coragem de acabar com todos os sistemas e subsistemas de saúde, incluindo a ADSE e desterrar mais de um milhão de pessoas para encher os hospitais e centros de saúde.

Depois ver-se-ia como é que era.

Insisto que falta tacto político aos nossos dirigentes e que os interesses políticos e partidários imediatistas e mediáticos de intervenção política se sobrepõem aos interesses gerais dos trabalhadores e do povo em geral.

Adenda: Peço desculpas aos meus amigos do SINTTAV e da Comissão de Trabalhadores … mas há coisas que precisam de ser ditas…