Há um debate que tem de ser feito no Bloco de Esquerda. Um debate que se prende com formas de organização do trabalho político os processos de comunicação, do debate, da intervenção e decisão.
Aqui fica mais uma achega. Lá no fundo fica outra, anterior a esta, para quem quiser ou tiver paciência para isso. Aí vai.
Não é na proliferação de núcleos, de grupos de trabalho, na presença organizada nas empresas, nas associações culturais, nas associações de trabalhadores ou noutras de expressão cívica que o Bloco deve fazer sentir a sua presença. Os activistas do Bloco, não devem estar organizados para influenciar, para conquistar posições, determinar políticas, como se uma qualquer competição estivesse a ser disputada.
As mulheres e homens de esquerda, os bloquistas em particular, devem estar presentes, é uma exigência cívica, para participar na discussão, contribuir para as soluções, para promover a alteração de políticas desacertadas, umas vezes brigando, outras vezes concertando, outras vezes, se necessário, rompendo, saindo ou constituindo alternativas válidas e consequentes.
O molde da participação individual, deve ser sólido no argumentário, o que presume a existência de políticas sectoriais consistentes (a requerer debates continuados e alargados) e concomitantemente, claro nos propósitos, para não haver temores de controlos externos às organizações. Quero dizer que o Bloco não deve controlar, nem sequer ter tentações de controlar os movimentos, cabendo-lhe apenas propiciar aos seus activistas, espaços e modelos de discussão, para a aquisição de uma nova cultura política, concordante com um projecto mais amplo de construção de uma alternativa de esquerda consequente. É assim que vejo a participação democrática.
Assim, mais do que grupos de trabalho, defendo a criações de fóruns de discussão temáticos, continuados e abrangentes. Só especificidades concretas poderão determinar, uma organização temporária, para dar concurso a essa questão pontual. O Bloco não deve ter correntes, tendências, “organização”, no seio desses movimentos.
O foco deverá ser pois, na definição das grandes linhas de rumo, seja na grande política seja nas questões sectoriais, para “formar” opiniões e criar ambientes favoráveis às boas decisões a tomar pelos envolvidos.
A instituição de uma carta de ética política e de compromissos partidários dos activistas do Bloco seria um sinal para todos, de uma nova forma de fazer e estar na política.
Logo não é de “estrutura” mas da política que falo quando pretendemos discutir modelos de trabalho e de organização.
Penso não estar enganado se disser que esta filosofia está estabelecida, nas linhas ou entrelinhas da estratégia política e nos documentos oficiais, mas sem correspondência prática nos activistas porque o modelo, não sendo acompanhado das “ferramentas” adicionais, confronta com a operacionalidade do trabalho político, nos termos em que se estava habituado a trabalhar, nomeadamente a nível do trabalho sindical e associativo.
Convém dizê-lo, não obstante inculcar-se a ideia contrária, que a actual forma de trabalhar tem dado jeito (a alguns ou a todos os “grupos” e funcionários do Bloco), para se afirmarem para dentro, num jogo de preponderância política, que dá ascenção no partido por “mérito”, mas que em consequência vai causando “danos” na confiança e credibilidade da força do projecto.
O que disse não são acusações a ninguém, não tenho pretensões a julgar ninguém, as boas ou as más práticas… são apenas registos individuais, ditos de forma reflectida, imparcial e respeitosa, para com todos os que continuam, dentro ou fora a alimentar o sonho de construção de um projecto socialista no partido e na sociedade.
Como sabem, passado estes anos de actividade no Bloco, pedi a minha renúncia da condição de aderente e por consequência do cargo público para o qual fui eleito nas listas do Bloco. À segunda foi de vez, depois de há precisamente um ano, ter pedido para sair, tendo sido dissuadido, face ao trabalho autárquico em curso e iminente e a proximidade das presidenciais, na qual estive de corpo e alma com Francisco Louçã.
Mas a condição de desvinculado do partido não é impeditiva de contribuir e a apoiar o Bloco, enquanto continuar a acreditar que, embora o processo não seja fácil, tem condições, com vontade e lealdade política, para andar e vencer.
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