O passeio triunfal de Sócrates e como os privilégios não acabaram

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O país está anestesiado. O primeiro-ministro Sócrates navega em almas calmas. Os portugueses parecem rendidos ao canto da sereia Sócrates. As dores dos primeiros tempos da governação já estão esquecidas. A grande e justa manifestação de 100 mil trabalhadores em Lisboa, colocou a resposta dos trabalhadores e dos grupos sociais mais prejudicados, num patamar muito alto, talvez cedo demais. Todas as lutas agora, parecem pequenas e pouco eficazes.

O Governo conduziu uma grande ofensiva contra a grandes direitos dos trabalhadores e contra conquistas civilizacionais, mentiu ao país, aumentou os impostos, mexeu nos valores das reformas, aumentou a idade de trabalho, capitulou no código de trabalho, congelou salários, provocou perda de poder de compra. Mandou fechar escolas, maternidades, urgências, diminui comparticipações sociais aos mais idosos, cortou benefícios sociais, afrontou, inúmeras classes profissionais.

Foi uma investida nojenta com base na mentira de ataque a supostos privilégios. Como se, o direito a ter uma reforma justa, um sistema de saúde digno, segurança no emprego, estabilidade profissional e familiar, conceder protecção social aos mais pobres, fossem privilégios. Talvez, não sei, se tivesse justificado uma greve geral de protesto. As pessoas estavam mobilizadas, descontentes, os portugueses não aceitavam, os cortes brutais em algumas áreas. Agora não é o tempo.

O controlo das despesas e do défice público, o equilíbrio financeiro das contas do Estado, a reorganização estrutural e operacional do Estado, justificava uma intervenção urgente, empenhada e responsável, desde sempre isso foi claro. Como também foram claras as medidas que o PS preconizava para alterar a situação. E aqui reside a grande mentira deste Governo. O PS sabia o que se passava não podia vir depois negar desconhecimento. O PS e Sócrates apresentou-se às eleições e nos debates, muito claro nas suas opções e em nenhum momento insinuou sequer a possibilidade de ensaiar esta medidas. Foi uma vitória eleitoral da mentira.

Agora parece estar tudo bem. A máquina de propaganda e o estilo de Sócrates adormeceu tudo e todos. O passado está feito e esquecido. O discurso tipo é o de quem não tem dúvidas e não se engana. A oposição não tem força e capacidade de resposta. O caminho está traçado e aparece como seguro e inevitável. É essa a mensagem que passa(m). Os portugueses podem estar descansados. O futuro, o bom futuro, está ali ao virar da esquina.

Mas a mentira de que os ataques aos “privilégios” eram para todos, continua. Hoje lemos que o Presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), não obstante se ter demitido (não foi despedido) vai continuar a receber por conta do seu auto despedimento, a escandalosa quantia de 10 mil euros mês, durante os próximos dois anos.

O presidente da ERSE demite-se porque queria um aumento nos preços da electricidade em 16 por cento que mereceu a reprovação generalizada e obrigou o Governo a recuar, depois das espantosas declarações do Secretário Adjunto da Industria e Inovação, dizendo que a culpa era dos consumidores.

E nós cá vamos fazendo pela vida. “Eles tratam de nós”.