Belmiro de Azevedo quando lançou a OPA sobre a PT disse que 9,5 euros por acção eram um preço justo. Disse que estava a ser generoso pois a PT valia bem menos. Em tom jocoso disse que só aumentaria o valor se encontrasse uma mina de ouro na Portugal Telecom.
Pelos vistos encontrou o tal tesouro. Subiu um euro ao valor inicial, para os 10,5 euros.
Mas os accionistas da PT também querem que a PT seja a sua mina de ouro.
Em resposta aos iniciais 9,5 euros a administração da PT engendrou um conjunto de medidas que suplantavam o valor oferecido pela Sonaecom, das quais o aumento dos dividendos era para os accionistas a cereja em cima do bolo.
Os accionistas esfregam as mãos. A Administração da PT já reagiu a esta nova oferta e o conjunto da sua oferta, atira o valor das acções, para os 11,5 euros. Não restam dúvidas que tudo está a ser feito para ver quem dá mais dinheiro a ganhar aos accionistas. Repare-se. Um accionista com cerca de 3% de acções terá cerca de 350 milhões de acções. A diferença de mais um euro por acção, oferecido por Belmiro, significaria mais 350 milhões de euros, com a proposta da Administração da PT, dobrará esse valor, na sua conta bancária.
Um caso: Joe Berard é um homem cuja colossal riqueza foi construída com base na especulação bolsista e tem perto de 3% de acções, compradas já depois de declarada a OPA por Belmiro, por um valor unitário, um pouco acima dos 9,5 euros. É fazer as contas. Com a nova remuneração accionista da Administração da PT e cada acção a valer nos próximos 3 anos 11,5 euros, Joe Berard ganha em pouco tempo, sem fazer nada por isso, (2 euros X 350 milhões de acções), 750 milhões de euros. Mas há mais Joe Berard’s.
Quem paga isto tudo?
a) Os trabalhadores da Portugal Telecom. Nos aumentos salariais inferiores a 1 por cento (parece que agora deram uns 0, qualquer coisa por cento) no anos em que a empresa tem os maiores lucros da sua história. Os aumentos descomunais no seu sistema de saúde. O novo AE a retirar direitos (congelamento e fim das progressões automáticas sem o quadro alternativo estar discutido). O fundo de pensões deficitário. A pressão sobre o trabalho. Os “despedimentos”.
b) O investimento tecnológico e científico. A formação. Um pior serviço aos Clientes. Um possível aumento de preços. O desenvolvimento do país.
Esta OPA teve duas finalidades:
1) A família Azevedo fazer um negócio altamente lucrativo, adquirindo uma empresa forte, de “borla”, com os custos de aquisição, suportados com os seus próprios lucros, com a venda da Vivo do Brasil, a fusão dos operadores móveis TMN/Optimus e ainda com os cerca de 7 mil milhões de impostos de IRC que iria deixar de pagar ao Estado.
2) Evitar o desaparecimento da Sonaecom a prazo a ser absorvida por um qualquer grupo económico estrangeiro e condenada ainda pelo seu próprio fracasso no negócio.
O mérito que se atribui à separação das redes e à gestão das infra-estruturas físicas era um processo inevitável e já estava em curso e não dependeu da OPA mas da ineficácia do regulador.
Toda a gente terá percebido que a OPA sobre a PT é na sua essência um destruidor de valor e se alguma coisa se pode atribuir, desde já, a Belmiro é o de ter paralisado a PT e prejudicado seriamente os seus trabalhadores. Espera-se que não alargue os prejuízos aos consumidores e ao país.
Aos trabalhadores cabe mostra a sua posição de forma inequívoca e isso passa por estarem presentes nas manifestações promovidas pelas organizações dos trabalhadores, independentemente da análise que cada um de nós faça sobre as responsabilidades sobre a divisão das Organizações dos Trabalhadores. Reiteiro o meu apelo. Amanhã, dia 22 de Fevereiro e no dia 2 de Março vamos todas a Lisboa manifestar a nossa rejeição à OPA sobre a PT.