É uma frase batida mas cada vez faz mais sentido.

O Governo quer equilibrar as contas públicas. E ninguém de bom senso ousará contestar esse desígnio. E não deveria ser preciso a Europa estar a dizer-nos. O Estado não pode viver acima das suas possibilidades. Cada um de nós, sendo responsável, sabe que só pode gastar aquilo que tem. Se alguém ganhar mil euros por mês, por exemplo, não pode querer gastar mil e duzentos. Esta deve ser a regra. Não é por aí que o Governo deve ser criticado. Nem por ter uma obsessão em diminuir o défice. Controlar as contas é um bom princípio.

A questão não é essa!

A questão é saber como e de que modo se vai diminuir o défice e controlar as contas. Penso ser consensual dizer que apenas existe um caminho: aumentar as receitas e diminuir as despesas públicas do Estado, gerindo bem as contas. E como é que isso se faz? Há muitas teorias económicas. Não sou eu que vou dar palpites. Mas de certeza que qualquer delas exige ou exigiria sacrifícios até atingir um equilíbrio.

E aqui é que bate o ponto e aqui é que o Governo mostra que é canalha.

O Governo já não tem margem para pedir mais sacrifícios aos mesmos. Não pode continuar a exigir mais sacrifícios aos que atravessam mais dificuldades.

Não adianta estar aqui a repetir-me sobre as malfeitorias deste Governo sobre os trabalhadores e as populações. Não adianta dizer que pelo terceiro ano consecutivo, os pensionistas de mais baixos rendimentos vão ver a sua a taxa de IRS agravada. Ou que os preços dos serviços essenciais aumentam desmesuradamente. Ou que vão retirar os benefícios fiscais aos deficientes de uma forma cega. Ou que vai aumentar a carga fiscal aos trabalhadores, por contra de outrem, que tenham um vencimento (mais que justificado) superior a 2,5 por cento. Não, não adianta!

Estas são escolhas políticas de Governos canalhas. Agora é este antes foram de outros.

O que adianta insistir é que estas são as escolhas políticas de Governos ao serviço dos ricos e dos poderosos. E que os ricos continuam mais ricos. E que as desigualdades acentuam-se e o desemprego cresce sem parar.

Não, agora já não se trata de pedir que haja uma partilha de sacrifícios…

Agora, trata-se de exigir (para pegar numa velha frase), os ricos que paguem a crise!

Os grandes lucros e as grandes “máquinas” de alguns, devem querer significar alguma coisa.

O despedimento encapotado

Ontem li algures que dos mais de 900 trabalhadores que estão no chamado regime de mobilidade, são trabalhadores cujo salário médio não chega aos 1 000 euros. Ou seja, a ter em conta os vencimentos, a maioria serão certamente trabalhadores dos escalões mais baixos do funcionalismo público. As empregadas de limpeza, o pessoal do serviço auxiliar, etc.

Estes trabalhadores já estão nesta situação à mais de três meses o que significa que o seu vencimento já mingou em 1/3 a juntar à perda do subsídio de refeição que rondará os 100 euros/mês, se bem li.

Feitas as contas assim por alto, são mais de 400 euros/mês, a deixar de entrar em casa todos os meses. É muito dinheiro para quem tem um vencimento baixo.

E onde estão as alternativas anunciadas de mobilidade, formação, ou reconversão profissional? É uma forma de despedimento encapotada.

Entretanto a lista de “excedentários/potenciais despedidos” vai crescendo, depois do sector da saúde, paira agora a ameaça sobre 2 500 professores incapacitados por doença.

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É por estes e outros motivos que a luta de 18 de Outubro é justa.

 

Conversas de café.

O Kontraste 3.0, numa rubrica que designou como conversas de café, convidou o Foice de Dedos a responder a um conjunto de questões, na linha de outras entrevistas que tem vindo a publicar, visando dar a conhecer melhor quem está por trás dos Blogues e as sua motivações. Antecipando-me à prometida publicação no Kontraste 3.0 dou conta, aos meus leitores, da entrevista que me foi solicitada via e-mail.

Sabendo que a blogosfera é uma janela para a vida cibernética, como vê o fenómeno “blogue”?

– Os blogues sendo talvez o produto primeiro da expressão pública de uma presunção pessoal, a consequência última é contudo a união perfeita entre tecnologias e cidadãos, num universo de saberes e de informação, continuamente actualizado e interactivo, colocados ao dispor de todos, enfim, um espaço superior de consulta e pesquisa privilegiado e mais confiável, logo um indispensável instrumento para a democratização e libertação das pessoas e das sociedades.

Quando acede à blogosfera que tipo de blogues procura?

– Abro com os de conteúdo social e político e destes, em primeiro lugar aqueles cuja identidade política é próxima da minha, principalmente os que julgo mais aptos, exigentes e sérios na análise e na argumentação. Por “deformação ideológica”, fazem ainda parte da minha leitura regular, os blogues descoincidentes com o entendimento dominante em várias temáticas. E também o dos amigos, naturalmente, seja qual for a área em que se movem.

O que o levou a criar um Blogue?

– Entrei pensando que tinha opiniões descondizentes com as maiorias e queria deixar isso assinalado, sem cuidar de grande rigor e prazos, deixando soltar ideias descomprometidas e simultaneamente experimentar novas sensações, a juntar a uma escrita simples e despretensiosa, reservada praticamente a mim próprio.

Que balanço faz da sua estadia na blogosfera e da blogosfera actual?

– Três anos depois, com o “à esquerda” primeiro, o “A hora que há-de vir!..” depois e agora com o Foice dos Dedos, a vontade de postar mudou. Considero que a minha presença já foi mais útil e a vontade maior. Embora a blogosfera tenha públicos para todos, hoje quem se dispõem a visitar os blogues, quero crer, na sua maioria, espera informação idónea e actualizada, argumentos capazes, vastos conhecimentos, competências extraordinárias e tempo, coisas que manifesta e humildemente não tenho por aí além. Nos últimos tempos a blogosfera cresceu muito em qualidade e especialização e a tendência é para uma maior refinação e requinte e quem sabe, profissionalização. O balanço é a todos os títulos positivo.

Acha que os blogues podem substituir a imprensa online?

– Acho que podem competir, mas dificilmente substituí-los. Nem seria útil. A imprensa on-line é basicamente informação, os blogues são informação, comentário, opinião, investigação. Os blogues não estando prisioneiros de compromissos comerciais, de um sistema empresarial, tendem a ser mais independentes e mais ousados na opinião.

Em que medida os blogues influenciam ou influenciaram a sua vida e/ou a actividade profissional?

– Não influenciaram muito a não ser um tempo maior dedicado ao blogue e aos blogues de “estimação”. No geral ajudaram-me a perceber melhor o mundo e as diferenças entre a opinião publicada e a realidade. Com os blogues ganhei em informação e conhecimentos.

O que faz um bom blogue?

– Globalmente, um layout simples, com “luz” e uma predominância do fundo branco. Bons textos, curtos e expressivos, actualização e temas adequados ao público-alvo. Extrema dedicação e muito fair-play aos comentários “inconvenientes”.

por Fernando Publicado em Geral

Hasta la Victoria Siempre!

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UM SONHO PODE CUSTAR UMA VIDA.

FAZ HOJE, 9 DE OUTUBRO DE 2007, QUARENTA ANOS QUE UM SARGENTECO DO EXERCITO BOLIVIANO, A SOLDO DA CIA E DOS ANTICASTRISTAS, CEIFOU A VIDA A ERNESTO GUEVARA DE LA CERNA. (IRONIA DO DESTINO. CURIOSAMENTE ESSE SARGENTECO ACABA DE READQUIRIR A VISÃO P’LAS MÃOS DE MÉDICOS CUBANOS. DUPLA VITORIA DO CHE COMO ALGUÉM ESCREVEU)

“En nuestro afanoso oficio de revolucionarlo, la muerte es un accidente frecuente” escreveu Che.

Este poema de Álvaro de Oliveira lembrou-me Che, em homenagem ao guerrilheiro ouso usurpar as palavras do poeta:

“O TEU OLHAR / QUE SOLTO TE CONVOCA / E NOS CONVOCA ”

[Aquele olhar captado por Alberto Díaz Gutiérrez, – que o mundo conheceu como Alberto Korda – imortalizou na celebre fotografia de Che, tirada a dia 5/3/1960 quando este participava protesto contra a explosão de um barco que matara 136 pessoas. Alberto Korda estava então longe de imaginar que a sua foto correria mundo e se transformaria maior ícone da esquerda de todo o mundo.]

Desculparão o abuso mas hoje, particularmente hoje, senti necessidade de homenagear Che, uso para isso o espaço do Fernando, sei que ele não se me levará a mal.

De igual modo imagino que Álvaro de Oliveira não se sentirá incomodado com o uso do seu poema. Até porque, como escreveu Manuel Alegre “A qualquer momento / qualquer um / pode dizer: eu sou o Che.”

São de Alegre as palavras que ilustram a minha homenagem:

“De todos os guerrilheiros / ele é o único insepulto / nem sequer se sabe se ressuscitou / ao terceiro dia / Não está em parte nenhuma / o que significa que pode estar em toda a parte
“O foco guerrilheiro existe sempre. Em cada um de nós/ existe um foco. Uma guerrilha possível / uma insubmissão, / Nem é preciso procurar além a serra / o lugar propício / inacessível / A serra está em nós. Começa / em certas noites no nosso próprio quarto / irrompe subitamente sobre a mesa de trabalho / pode aparecer à esquina / em plena rua”

JC

Nota: O tempo, nesta altura, é curto já o tinha dito aqui, ocupado que ando noutras coisas da vida. Por isso e certamente com a cumplicidade do JC, aproveito o seu comentário para dar o destaque que Che merece, prestando-lhe a minha homenagem também.

É uma ave selvagem

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é uma ave selvagem
o teu olhar
sempre o teu olhar

 

o teu olhar
que solto te convoca
e nos convoca a sós

 

 

Álvaro de Oliveira
Baladas de Orvalho
(Passos de Anisa 5)

por Fernando Publicado em Poesia

Beleza em triplicado

São trigêmeas, Andréa, Adriana e Alessandra e contam 25 anos de idade. São três lindas meninas loiras e de olhos verdes. Apresentam outros atributos físicos. Posaram para a revista VIP brasileira.

Vale a pena ver a beleza destas jovens irmãs.

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por Fernando Publicado em Geral

Divagações.

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Qual o caminho para capitalizar o descontentamento gerado pela social-democracia tecnocrática de José Sócrates? Talvez dissolver o Bloco de Esquerda para criar uma nova plataforma que junte o eleitorado de Manuel Alegre e Helena Roseta e o dinamismo de um novo líder chamado Carvalho da Silva? Não: aconteceu o mesmo na Alemanha no Verão e acontecerá em Itália ainda este ano.

(da Focus de hoje)

Será que é possível à esquerda, às várias esquerdas, esquerdas-esquerdas, encontrarem plataformas mínimas de entendimentos, cada vez mais alargadas? Serão possíveis, entendimentos que conduzam a um partido único, a um Partido da Esquerda Portuguesa, como é o meu desejo?

Que esquerda nova queremos, afinal? Estamos dispostos a sacrificar os nossos “grupos”?

É possível construir um movimento ainda mais largo e mais aberto? É possível chamar os renovadores comunistas, os independentes, os votantes de esquerda, doutros partidos a esta nova organização?

Em que domínios e quais os pontos comuns, susceptíveis de unir a esquerda, na prática e concertadamente?

Serão movimentos tipo “Movimento Intervenção Cívica”, Fórum Social, ATTAC, espaços privilegiados e adequados, de discussão, de procura dos caminhos, de reflexão sobre as escolhas fundamentais e prioritárias, da congregação dos esforços para dar forma a actuações mais eficazes?
(…)

(de A hora que há-de vir!..)

Os partidos são um instrumento político, não podem ser o fim.

Miguel Portas (citado pela Focus)

O povo não pode esperar

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Eu ando um pouco zangada com a esquerda. Em particular com o Bloco de Esquerda. Porque é do Bloco de Esquerda que espero alguma coisa mais.

O PCP sabe-se, não quer mudar nada à esquerda. A existência do PCP resume-se a fazer uma oposição conservadora e corporativista. Aos dirigentes do PCP chega-lhes a CGTP para a luta política e o protesto, uma dúzia de deputados para quase nada de relevante e um passado político na luta antifascista.

O Bloco de Esquerda deve querer mais. Eu quero mais do Bloco senão não vale a pena. O Bloco deve querer ser um partido do poder. Agora. É isso que deve anunciar. Sem isso nada feito. O Bloco com três, sete ou dez deputados, é a mesma coisa. Para mim bastava um com o tempo de antena dos sete. O Bloco de agora não é melhor que o Bloco quando tinha dois deputados. O que eu espero é um Bloco a influenciar a governação. O mais rápido possível. Com acordos ou partilhando o poder.

Com este PS de Sócrates não há acordos possíveis, mas o discurso do Bloco deve ir ao encontro das expectativas dos eleitores do PS, quebrando o PS, provocando divisões internas. Precisa de olhar igualmente para a massa de eleitores do PSD. Para isso precisa de fazer algumas reorientações no discurso político. Também na prática política. Precisa adaptar a linguagem. Inventar formulações. Ser popular. Não aparecer aos olhos dos eleitores como estando sempre do contra.

Tal não significa abdicar dos princípios, dos objectivos, das propostas políticas. O Bloco tem um projecto político e em algum momento deve ser colocado em causa.

Mas não se pretende a revolução amanhã. Pode ser depois de amanhã. Mas para isso é preciso conquistar as pessoas com inteligência. Desde que sejam povo todos os apoios são bem-vindos.

O que as pessoas, todas as pessoas de esquerda desejam, se verdadeiramente são de esquerda é antes de tudo, o bem-estar do povo, é dignidade e justiça social, são enfim melhores condições de vida para todos. E liberdades.

Quero dizer por fim que estou mais à esquerda que nunca. Mas as discussões filosóficas e ideológicas, não podem iludir um problema premente; o povo não pode esperar.

Uma nota final. Gostava de ver o PCP empenhado numa convergência à esquerda sem preconceitos e sem pretensões de liderança. Será um dia… porque o PCP é indispensável.

Barcarola Negra

Companheiro que remas junto a mim,
nesta galera de escravos
em que nos embarcaram, logo depois de nascer
– é preciso acabar este fadário,
ou ir ao fundo com a nau maldita!..

Nós andamos aqui
– eu,
tu,
nós todos –
a expiar um crime que não cometemos!..

Ao longe,
pra lá das vagas altas e das montanhas de espuma,
está a terra donde nos roubaram
do colo das nossas mães!

É para lá – eu sei –
é para lá que voam
os nossos olhos tristes,
como aves de arribação, buscando os ninhos …

Pois bem.
Nós temos de ir, também com eles
– com nossos olhos meninos
que nunca serão escravos!..

É preciso coragem, companheiros
– um esforço tremendo de músculos e vontade –
é preciso largar as mãos dos remos:
– quebrar os remos
– … ou quebrar os braços! …

Alfredo Reguengo
Inédito 1945
(Poemas da Resistência)

por Fernando Publicado em Poesia